Fofoca como laço social
O mexerico não é um fenômeno atual, porém, a propagação da onda do disse me disse criou
uma rede de relacionamentos galgada na incerteza, onde o sentido é atribuído por qualquer um.
Fofocar é falar sem prova, normalmente baseado no que uma pessoa sente, ou melhor, naquilo que quer fazer o outro sentir.
Em um mundo em que canais oficiais se distinguiam claramente dos informais, era fácil separar a fofoca da informação. Não é o que ocorre em nossos dias de uma sociedade horizontalizada, na qual os meios de comunicação estão à disposição de todos, de forma fácil, barata e eficiente. Todo mundo pode comentar tudo, estamos no mundo da fofoca generalizada.
No mundo anterior, vertical e padronizado, a informação séria acalmava os espíritos que nela encontravam a boa referência para se orientar. No universo atual da epidemia da fofoca, as pessoas se achando perdidas, buscam uma palavra que lhes seja mais asseguradora, daí seguirem piedosamente os que falam em nome de Deus, ou em nome da ciência, o que explica a explosão de neorreligiões em cada esquina, ou em cada madrugada televisiva, e o crescimento exponencial dos livros de autoajuda supostamente calcados em ciências da maldita “qualidade de vida”.
Qual defesa?
Fofoca-se sobre tudo e sobre todos, respeitando a uma só regra essencial: -”Jamais fofoque em frente ao fofocado”. Frente à invasão da fofoca em todas as vidas, como se defender? Nunca dê consistência ao outro. O que quer dizer isso? Elementar: a fofoca, exatamente por sua característica de incerteza, pede para ser comprovada e não há melhor comprovação do que aquela oriunda do fofocado, através de ações do gênero: desmentido, irritação, agressão, disfarce. O fofocado nunca deve assumir o lugar de condenado que lhe é proposto, assim fazendo, a fofoca voltará como descrédito a quem a inventou.
Fofoca e os Gêneros
Embora
associado a um hábito feminino, estatisticamente os homens são mais
fofoqueiros. A Social Issues Research Centre, um centro de pesquisas
independente de Londres, entrevistou 1.000 donos de telefones celulares
com o intuito de saber qual era o teor das conversas. Destes, 33% dos
homens eram fofoqueiros habituais, contra apenas 26% das mulheres.
Em
termos de conteúdo, pesquisa recente revelou apenas uma diferença
significativa entre a fofoca masculina e feminina: os homens gastam
muito mais tempo falando de si mesmos. Do tempo total dedicado à
conversa sobre as relações sociais, os homens gastam dois terços falando
sobre suas próprias relações, enquanto as mulheres só falam de si
mesmos de um terço do tempo3 .
Geralmente os homens fofocam sobre
o ambiente de trabalho, gafe de colegas e principalmente sobre
mulheres. Também vale ressaltar as razões que levam a fofoca: as
mulheres, em geral, é uma maneira de passar o tempo enquanto para os
homens pode servir, além de pura informação, como meio de auto-afirmação
perante o resto dos amigos e colegas (quando este, por exemplo, gaba-se
de ter saido com uma bela mulher).
Curiosamente, muitos dos
participantes do sexo masculino desta pesquisa inicialmente alegaram que
não fofocavam, enquanto quase a totalidade das mulheres prontamente
admitiam fazer fofoca. Em novo interrogatório, no entanto, a diferença
parece ser mais uma questão de semântica do que material: o que as
mulheres estavam felizes de chamar de "fofocas", os homens definiam como
"troca de informações". Um participante do sexo masculino,de forma mais
honesta, confidenciou: "Nós não gostamos de chamar de fofoca, porque
soa trivial - como se você não tivesse nada melhor para fazer."
Ecos e acordes
A
fofoca vive bem nesse nosso novo mundo que funciona mais pelo ressoar
que pelo raciocinar. Quando dois jovens hoje conversam entre si, eles
não perguntam um ao outro, como seus pais faziam, se está claro o que
foi dito, se deu para compreender. Não, o que eles perguntam está
resumido na expressão tão repetida a ponto de virar caricatura, que é a
expressão “tá ligado?”. Perguntar se “tá ligado” é querer saber se o que
foi dito ressoou no interlocutor, se encontrou eco, e não se foi bem
compreendido. A cada um de saber o que fazer com o que o foi dito, a
cada um de completar o sentido do “tá ligado?”. Assim, esse terreno se
revela rico para a fofoca que transita por aí como a energia transita em
um fio. E tudo vai bem, salvo se alguém resolve acreditar que a fofoca é
sobre ele mesmo; aí o circuito para, por ter encontrado uma pessoa fora
do laço social : um desligado.(Fonte:PDF)
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