domingo, 26 de maio de 2013

A Musicoterapia...e Sua Utilização

- Como atua o musicoterapeuta?
- Indicações da musicoterapia
- Que música é a mais indicada?


A musicoterapia é uma forma de tratamento que utiliza a música para ajudar no tratamento de problemas, tanto de ordem física quanto de ordem emocional ou mental.

A musicoterapia como disciplina teve início no século 20, após as duas guerras mundiais, quando músicos amadores e profissionais passaram a tocar nos hospitais de vários paises da Europa e Estados Unidos, para os soldados veteranos. Logo os médicos e enfermeiros puderam notar melhoras no bem-estar dos pacientes.

De lá para cá, a música vem sendo cada vez mais incorporada às práticas alternativas e terapêuticas. Em 1972, foi criado o primeiro curso de graduação no Conservatório Brasileiro de Música, do Rio de Janeiro. Hoje, no mundo, existem mais de 127 cursos, que vão da graduação ao doutorado.

Como atua o musicoterapeuta?

 
O musicoterapeuta pode utilizar apenas um som, recorrer a apenas um ritmo, escolher uma música conhecida e até mesmo fazer com que o paciente a crie sua própria música. Tudo depende da disponibilidade e da vontade do paciente e dos objetivos do musicoterapeuta. A música ajuda porque é um elemento com que todo mundo tem contato. Através dos tempos, cada um de nós já teve, e ainda tem, a música em sua vida.

A música trabalha os hemisférios cerebrais, promovendo o equilíbrio entre o pensar e o sentir, resgatando a "afinação" do indivíduo, de maneira coerente com seu diapasão interno. A melodia trabalha o emocional, a harmonia, o racional e a inteligência. A força organizadora do ritmo provoca respostas motoras, que, através da pulsação dá suporte para a improvisação de movimentos, para a expressão corporal.

O profissional é preparado para atuar na área terapêutica, tendo a música como matéria-prima de seu trabalho. São oferecidos ao aluno conhecimentos musicais específicos, voltados para a aplicação terapêutica, e conhecimentos de áreas da saúde e das ciências humanas. São oferecidas também vivências na área de sensibilização, em relação aos efeitos do som e da música no próprio corpo.

Indicações da musicoterapia

Sendo inerente ao ser humano, a música é capaz de estimular e despertar emoções, reações, sensações e sentimentos.Qualquer pessoa é susceptível de ser tratada com musicoterapia. Ela tanto pode ajudar crianças com deficiência mental, quanto pacientes com problemas motores, aqueles que tenham tido derrame, os portadores de doenças mentais, como o psicótico, ou ainda pessoas com depressão, estressadas ou tensas. Tem servido também para cuidar de aidéticos e indivíduos com câncer. Não há restrição de idade: desde bebês com menos de um ano até pessoas bem idosas, todos podem ser beneficiados.

Particularmente são indicados no autismo e na esquizofrenia, onde a musicoterapia pode ser a primeira técnica de aproximação. A musicoterapia é aplicável ainda em outras situações clínicas, pois atua fundamentalmente como técnica psicológica, ou seja, reside na modificação dos problemas emocionais, atitudes, energia dinâmica psíquica, que será o esforço para modificar qualquer patologia física ou psíquica. Pode ser também coadjuvante de outras técnicas terapêuticas, abrindo canais de comunicação para que estas possam atuar eficazmente.

Que música é a mais indicada?

Músicas com ritmo muito marcante, não servem para o relaxamento, como por exemplo, o rock. O ritmo do rock é constante, ao passo que no relaxamento, a tendência é diminuir o pulso e o ritmo da respiração.

Cada ritmo musical produz um trabalho e um resultado diferente no corpo. Assim há músicas que provocam nostalgia, outras alegria, outras, tristeza, outras melancolia, etc.

Alguns tipos de música podem servir de guia para as necessidades de cada pessoa. Bach, por exemplo, pode ajudar muito no aprendizado e na memória, Rossini, com Guilherme Tell e Wagner, com as Valkirias, ajudam especialmente no tratamento de pacientes com depressão. As valsas de Strauss podem contribuir e muito, para os momentos em que se necessita um maior relaxamento, estando bem indicadas para salas de parto. As marchas são um tipo de música que transmite energia, tão importante e escassa em áreas hospitalares de pacientes em convalescença.

Um bom exemplo disso tem sido o uso da musicoterapia, no auxílio do tratamento da doença de Alzheimer. Doença de caráter progressivo e degenerativo tem, entre seus primeiros sinais, o esquecimento, a dificuldade de estabelecer diálogos, as mudanças de atitude e a diminuição da concentração e da atenção. A musicoterapia ajuda a estimular a memória, a atenção e a concentração, o contato com a realidade e o esforço da identidade. Trabalha-se ainda a estimulação sensorial, a auto-estima e a expressão dos sentimentos e emoções.

A melhor ajuda que o tratamento dos pacientes, utilizando a música, pode proporcionar, é que ela, como terapia, torna os obstáculos da doença mais amenos e mais fáceis de serem ultrapassados.(Fonte:Comego)

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Apego Inicial...

Para bebês e crianças de colo, a "meta" do sistema comportamental de apego é manter ou alcançar proximidade com figuras de apego, geralmente os pais.

Teoria do apego (português brasileiro) ou teoria da vinculação (português europeu) é a teoria que descreve a dinâmica de longo termo em relacionamentos entre humanos. Seu princípio mais importante declara que um recém-nascido precisa desenvolver um relacionamento com, pelo menos, um cuidador primário para que seu desenvolvimento social e emocional ocorra normalmente. A teoria do apego é um estudo interdisciplinar que abrange os campos das teorias psicológica, evolutiva e etológica. Imediatamente após a Segunda Guerra Mundial, crianças órfãs e sem lar apresentaram muitas dificuldades, e o psiquiatra e psicanalista John Bowlby foi convidado pela Organização das Nações Unidas (ONU) a escrever um panfleto sobre o assunto. Posteriormente, ele formulou a teoria do apego.

Recém-nascidos apegam-se a adultos que são sensíveis e receptivos às relações sociais com eles, e que permanecem como cuidadores compatíveis por alguns meses durante o período de cerca de seis meses a dois anos de idade. Quando um recém-nascido começa a engatinhar e a andar, ele começa a usar as figuras de apego (pessoas conhecidas) como uma base segura para explorar além e voltar em seguida. A reação dos pais leva ao desenvolvimento de padrões de apego; estes, por sua vez, levam aos modelos internos de funcionamento, que irão guiar as percepções individuais, emoções, pensamentos e expectativas em relacionamentos posteriores. A ansiedade quanto a separação ou dor após a perda de uma figura de apego é considerada uma reação normal e adaptável para um recém-nascido apegado. Estes comportamentos podem ter evoluído porque aumentam a probabilidade de sobrevivência da criança.

O comportamento infantil associado ao apego é principalmente a busca por proximidade a uma figura de apego. Para formular uma teoria abrangente sobre a natureza das ligações afetivas prematuras, Bowlby explorou uma variedade de campos, incluindo biologia evolutiva, teoria da relação de objetos (um ramo da psicanálise), teoria de sistemas de controle, e campos da etologia e da psicologia cognitiva. Após documentos preliminares a partir de 1958, Bowlby publicou um estudo completo em três volumes Apego, Separação e Perda .

Pesquisas feitas pela psicóloga do desenvolvimento Mary Ainsworth nas décadas de 1960 e 70, reforçaram os conceitos básicos, introduziram o conceito de "base segura" e desenvolveram a teoria de um número de padrões de apego em recém-nascidos: apego seguro, apego inseguro evitativo e apego inseguro ambivalente. Um quarto padrão, apego desorganizado, foi identificado
posteriormente.


Na década de 1980, a teoria foi estendida para apego em adultos. Outras interações podem ser interpretadas como componentes do comportamento de apego; estes incluem relacionamentos entre pares em qualquer faixa etária, atração romântica e sexual, e reações quanto à necessidade de cuidado de recém-nascidos, doentes ou idosos.

Nos primórdios da teoria, psicólogos acadêmicos criticaram Bowlby, e a comunidade psicanalítica o isolou por seu afastamento dos princípios psicanalíticos; no entanto, a teoria do apego tornou-se, desde então, "a abordagem dominante para a compreensão do desenvolvimento social precoce, e deu origem a um grande surto de pesquisas empíricas sobre a formação de relacionamentos estreitos em crianças". Críticas posteriores à teoria do apego referem-se ao temperamento, à complexidade das relações sociais e às limitações dos padrões discretos para as classificações. A teoria do apego tem sido significativamente modificada como resultado de pesquisas empíricas, mas os conceitos tornaram-se geralmente aceitos. A teoria do apego tem formado a base de novas terapias e esclarecido as já existentes, e seus conceitos têm sido usados na formulação de políticas sociais e de amparo de crianças para dar apoio aos primeiros relacionamentos de vinculação das crianças
.(Fonte:PDF)

quarta-feira, 15 de maio de 2013

A Natureza em Desequilíbrio...Degradação

A compreensão do processo de degradação do meio ambiente passa pela análise da interação entre as ecologias natural e humana.
Desde o surgimento na biosfera, o homem destacou-se dos demais seres vivos pela sua capacidade de engenho e aprendizagem.
Com isso, passou a conquistar novos habitats, desenvolver novos nichos e nesse processo evolutivo, muito mais tecnológico do que biológico, passou a olhar o ambiente como sendo parte externa e não como elemento componente.
Como consumidor, criou o ciclo humano de materiais à parte dos ciclos naturais.
Porém, a manutenção desse ciclo humano depende da manutenção dos ciclos naturais, pois todas as “entradas” no ciclo de produção de bens para satisfazer o consumo humano vêm dos ecossistemas naturais e todas as “saídas” do ciclo humano se convertem em “entradas”no ciclo natural de materiais.
Tanto o ciclo natural como o ciclo humano estão submetidos às leis da natureza e estas permanecem invariáveis ao longo do tempo.
Como exemplos citam-se as leis físicas da conservação de energia - primeira Lei da Termodinâmica - e da entropia - segunda Lei da Termodinâmica. 
A primeira assegura que a energia pode transformar-se, porém não se cria nem se destrói, e a segunda institui que todas as “máquinas” se desgastam, conceitos que se aplicam tanto à ecosfera quanto à tecnosfera1. 
A esta última acrescenta-se ainda as leis criadas pelo homem. 
Estas, que regulam as sociedades e as economias, são variáveis de acordo com as circunstâncias e com o tempo. 
Analisando o ciclo natural, constata-se que além dos resíduos naturais que retornam à sua base biológica, estão os manufaturados, que procedem da atividade produtiva do homem, acrescidos daqueles provenientes do seu próprio metabolismo. 
Tais resíduos, para voltarem ao processo produtivo, vão depender da capacidade de reciclagem dos ciclos naturais. 
Muitos deles são substâncias inorgânicas e o resto são compostos orgânicos, alguns dos quais não biodegradáveis, que se convertem em contaminantes da base biogeoquímica e, seja pela quantidade ou pela qualidade, contribuem para a degradação do ambiente. 
Por outro lado, as“saídas” dos ciclos naturais para abastecer os ciclos humanos através da mineração, queimada, desmatamento, construção de hidrelétricas, agricultura e pecuária intensiva, etc., causam pressões que contribuem para a degradação do ambiente. 
Como resultado da soma das pressões sobre o meio ambiente tem-se a poluição ambiental.
O que seria então poluição ambiental ? Originalmente, poluição significa sujeira (do latim poluere= sujar), porém no contexto atual é mais que isso: poluição ambiental é a degradação da qualidade ambiente com prejuízos à qualidade de vida humana ou, mais especificamente, qualquer alteração na composição e características do ambiente que, direta ou indiretamente, impeça ou dificulte a sua utilização. 
Obviamente, este conceito é bem antropocêntrico, uma vez que coloca o homem como centro, já que a utilização do ambiente está atrelada à manutenção do ciclo humano de materiais. 
Por outro lado, é um conceito mais prático, uma vez que a composição e características do ambiente podem ser avaliadas conferindo um grau de qualidade ao ambiente ou a um dado recurso ambiental, assegurando o seu uso. 
Analisando, pode-se constatar que quanto maior for a população, maior será o consumo de alimentos, energia, água, minerais, etc. e, consequentemente, maior será a pressão sobre os ecossistemas naturais e maior a degradação da biosfera, ou seja, maior a poluição ambiental. 
Donde se conclui que o crescimento populacional pode ser apontado como causa maior da degradação ambiental. 
Rico polui, pobre também polui. 
Este por necessidade de sobrevivência, aquele, muitas vezes por ganância. Porém, a população não pode crescer indefinidamente, pois está limitada à capacidade de suporte do planeta.
A capacidade de suporte para a vida humana varia de acordo com a forma como o homem maneja os recursos naturais, podendo ser melhorada ou piorada pelas atividades humanas. Cria-se assim um ciclo vicioso, onde a população crescente polui o ambiente e o ambiente assim degradado vai perdendo a sua capacidade de suporte.(Fonte:PDF)

domingo, 5 de maio de 2013

Curiosidade Alheia...Fofoca

Fofoca como laço social

O mexerico não é um fenômeno atual, porém, a propagação da onda do disse me disse criou
uma rede de relacionamentos galgada na incerteza, onde o sentido é atribuído por qualquer um.
Fofocar é falar sem prova, normalmente baseado no que uma pessoa sente, ou melhor, naquilo que quer fazer o outro sentir.

Em um mundo em que canais oficiais se distinguiam claramente dos informais, era fácil separar a fofoca da informação. Não é o que ocorre em nossos dias de uma sociedade horizontalizada, na qual os meios de comunicação estão à disposição de todos, de forma fácil, barata e eficiente. Todo mundo pode comentar tudo, estamos no mundo da fofoca generalizada.
No mundo anterior, vertical e padronizado, a informação séria acalmava os espíritos que nela encontravam a boa referência para se orientar. No universo atual da epidemia da fofoca, as pessoas se achando perdidas, buscam uma palavra que lhes seja mais asseguradora, daí seguirem piedosamente os que falam em nome de Deus, ou em nome da ciência, o que explica a explosão de neorreligiões em cada esquina, ou em cada madrugada televisiva, e o crescimento exponencial dos livros de autoajuda supostamente calcados em ciências da maldita “qualidade de vida”.


Qual defesa?

Fofoca-se sobre tudo e sobre todos, respeitando a uma só regra essencial: -”Jamais fofoque em frente ao fofocado”. Frente à invasão da fofoca em todas as vidas, como se defender? Nunca dê consistência ao outro. O que quer dizer isso? Elementar: a fofoca, exatamente por sua característica de incerteza, pede para ser comprovada e não há melhor comprovação do que aquela oriunda do fofocado, através de ações do gênero: desmentido, irritação, agressão, disfarce. O fofocado nunca deve assumir o lugar de condenado que lhe é proposto, assim fazendo, a fofoca voltará como descrédito a quem a inventou.


Fofoca e os Gêneros

Embora associado a um hábito feminino, estatisticamente os homens são mais fofoqueiros. A Social Issues Research Centre, um centro de pesquisas independente de Londres, entrevistou 1.000 donos de telefones celulares com o intuito de saber qual era o teor das conversas. Destes, 33% dos homens eram fofoqueiros habituais, contra apenas 26% das mulheres.

Em termos de conteúdo, pesquisa recente revelou apenas uma diferença significativa entre a fofoca masculina e feminina: os homens gastam muito mais tempo falando de si mesmos. Do tempo total dedicado à conversa sobre as relações sociais, os homens gastam dois terços falando sobre suas próprias relações, enquanto as mulheres só falam de si mesmos de um terço do tempo3 .

Geralmente os homens fofocam sobre o ambiente de trabalho, gafe de colegas e principalmente sobre mulheres. Também vale ressaltar as razões que levam a fofoca: as mulheres, em geral, é uma maneira de passar o tempo enquanto para os homens pode servir, além de pura informação, como meio de auto-afirmação perante o resto dos amigos e colegas (quando este, por exemplo, gaba-se de ter saido com uma bela mulher).

Curiosamente, muitos dos participantes do sexo masculino desta pesquisa inicialmente alegaram que não fofocavam, enquanto quase a totalidade das mulheres prontamente admitiam fazer fofoca. Em novo interrogatório, no entanto, a diferença parece ser mais uma questão de semântica do que material: o que as mulheres estavam felizes de chamar de "fofocas", os homens definiam como "troca de informações". Um participante do sexo masculino,de forma mais honesta, confidenciou: "Nós não gostamos de chamar de fofoca, porque soa trivial - como se você não tivesse nada melhor para fazer."


Ecos e acordes

A fofoca vive bem nesse nosso novo mundo que funciona mais pelo ressoar que pelo raciocinar. Quando dois jovens hoje conversam entre si, eles não perguntam um ao outro, como seus pais faziam, se está claro o que foi dito, se deu para compreender. Não, o que eles perguntam está resumido na expressão tão repetida a ponto de virar caricatura, que é a expressão “tá ligado?”. Perguntar se “tá ligado” é querer saber se o que foi dito ressoou no interlocutor, se encontrou eco, e não se foi bem compreendido. A cada um de saber o que fazer com o que o foi dito, a cada um de completar o sentido do “tá ligado?”. Assim, esse terreno se revela rico para a fofoca que transita por aí como a energia transita em um fio. E tudo vai bem, salvo se alguém resolve acreditar que a fofoca é sobre ele mesmo; aí o circuito para, por ter encontrado uma pessoa fora do laço social : um desligado.(Fonte:PDF)

sábado, 4 de maio de 2013

Uma Anomalia Mundial...A Fome


A fome é, conforme tantas vezes tenho afirmado, a expressão biológica de males sociológicos.
Está intimamente ligada com as distorsões econômicas, com a designação de "subdesenvolvimento".

A fome é um fenômeno geograficamente universal, e cuja ação nefasta, nenhum continente escapa.
Toda a terra dos homens foi, até hoje, a terra da fome.
As investigações científicas, realizadas em todas as partes do mundo,constataram o fato inconcebível de que dois terços da humanidade sofre, de maneira epidêmica ou endêmica, os efeitos destruidores da fome. 

A fome não é um produto da superpopulação: a fome já existia em massaantes do fenômeno da explosão demográfica do após-guerra.
Apenas esta fome que dizimava as populações do Terceiro Mundo era escamoteada, era abafada era escondida.


Não se falava do assunto que era vergonhoso: a fome era tabu.
No mangue, tudo é, foi ou será caranguejo, inclusive o homem e a lama.
Não foi na Sorbonne, nem em qualquer outra universidade sábia que travei conhecimento com o fenômeno da fome.
A fome se revelou espontaneamente aos meus olhos nos mangues do Capiberibe, nos bairros
miseráveis do Recife - Afogados, Pina, Santo Amaro, Ilha do Leite.
Esta foi a minha Sorbonne.

A lama dos mangues de Recife, fervilhando de caranguejos e povoada de seres humanos feitos de carne de caranguejo, pensando e sentindo como caranguejo.
São seres anfibios - habitantes da terra e da água, meio homens e meio bichos.
Alimentados na infância com caldo de caranguejo - este leite de lama, se faziam irmãos de leite dos caranguejos.

Cedo me dei conta desse estranho mimetismo: os homens se assemelhando em tudo aos caranguejos.
Arrastando-se, acachapando-se como caranguejos para poderem sobreviver.
A impressão que eu tinha, era de que os habitantes dos mangues - homens e caranguejos nascidos à beira do rio - à medida que iam crescendo, iam cada vez se atolando mais na lama.

Foi assim que senti formigar dentro de mim a terrível descoberta da fome.
Pensei a princípio que era um triste privilégio desta área onde eu vivo - a área dos mangues.
Depois verifiquei que, no cenário de fome do Nordeste,os mangues eram uma verdadeira terra da promissão, que atraía homens vindos de outras áreas de mais fome ainda - das áreas da seca e da monocultura da cana-de-açúcar, onde a indústria açucareira esmagava,
com a mesma indiferença, a cana e o homem, reduzindo tudo a bagaço. 

Vê-los agir, falar, lutar, viver e morrer, era ver a própria fome modelando com suas despóticas mãos de ferro, os heróis do maior drama da humanidade - o drama da fome.
E foi assim que, pelas história dos homens e pelo roteiro do rio, fiquei sabendo que a fome não era um produto exclusivo dos mangues.
Que os mangues apenas atraíram os homens famintos do Nordeste: os da zona da seca e os da zona da cana.

Todos atraídos por esta terra de promissão, vindo se aninhar naquele ninho de lama, construído pelos dois e onde brota o maravilhoso ciclo do caranguejo.

 E quando cresci e saí pelo mundo afora, vendo outras paisagens, me apercebi com nova surpresa queo que eu pensava ser um fenômeno local, era um drama universal.

Que a paisagem humana dos mangues se reproduzia no mundo inteiro.
Que aqueles personagens da lama do Recife eram idênticos aos personagens de inúmeras outras áreas do mundo assolados pela fome.

Que aquela lama humana do Recife, que eu conhecera na infância, continua sujando até hoje toda a paisagem de nosso planeta como negros borrões de miséria: as negras manchas
demográficas da geografia da fome.

O assunto é bastante delicado e perigoso.
A tal ponto delicado e perigoso que se constituiu num dos tabus de nossa civilização.
É realmente estranho, chocante o fato de que, num mundo como o nosso, caracterizado por tão excessiva capacidade de escrever-se e publicar-se, haja até hoje tão pouca coisa escrita acerca do fenômeno da fome, em suas diferentes manifestações.

Quais são os fatores ocultos desta verdadeira conspiração de silêncio em torno da fome?
Trata-se de um silêncio premeditado pela própria alma da cultura: foram os interesses e os preconceitos de ordem moral e de ordem política e econômica de nossa chamada civilização ocidental que tomaram a fome um tema proibido, ou pelo menos pouco aconselhável de ser abordado publicamente.
Ao lado dos preconceitos morais, os interesses econômicos das minorias dominantes também trabalhavam para escamotear o fenômeno da fome do panorama espiritual moderno.

É que ao imperialismo econômico e ao comércio internacional a serviço do mesmo interessava que  a se processar indefinidamente como fenômenos exclusivamente econômicos - dirigidos e estimulados dentro de seus interesses econômicos - e não como
fatos intimamente ligados aos interesses da saúde pública.

Um dos grandes obstáculos ao planejamento de soluções adequadas ao problema da alimentação dos povos reside exatamente no pouco conhecimento que se tem do problema em conjunto, como um complexo de manifestações simultaneamente biológicas, econômicas
 e sociais. 

Por outras palavras, procuraremos realizar uma sondagem de natureza ecológica, dentro deste conceito tão fecundo de Ecologia, ou seja, do estudo das ações e reações dos seres vivos diante das influências do meio.

Neste ensaio de natureza ecológica tentaremos, pois, analisar os hábitos alimentares dos diferentes grupos humanos ligados a determinadas áreas geográficas, procurando de um lado, descobrir as causas naturais e as causas sociais que condicionaram o seu tipo de alimentação, com suas falhas e defeitos característicos, e de outro lado, procurando verificar até onde esses defeitos influenciam a estrutura econômico-social dos diferentes grupos estudados.

O objetivo é analisar o fenômeno da fome coletiva - da fome atingindo endêmica ou epidemicamente as grandes massas humanas.




Não só a fome total, a verdadeira inanição que os povos de língua inglesa chamam de starvation, fenômeno, em geral, limitado a áreas de extrema miséria e a contingências
 excepcionais, como o fenômeno muito mais freqüente e mais grave, em suas consequências
numéricas, da fome parcial, da chamada fome oculta, na qual pela falta permanente de determinados elementos nutritivos,em seus regimes habituais, grupos inteiros de populações se deixam morrer lentamente de fome,apesar de comerem todos os dias.


É principalmente o estudo dessas coletivas fomes parciais, dessas fomes específicas, em sua infinita variedade, que constitui o objetivo nuclear do nosso trabalho.
É que existem duas maneiras de morrer de fome: não comer nada e definhar de maneira vertiginosa até o fim, ou comer de maneira inadequada e entrar em um regime de carências
 ou deficiências específicas, capaz de provocar um estado que pode também conduzir à morte.
Mais grave ainda que a fome aguda e total, devido às suas repercussões sociais e econômicas, é o fenômeno da fome crônica ou parcial, que corrói silenciosamente inúmeras populações do mundo.

A noção que se tem, correntemente, do que seja a fome é, assim, uma noção bem incompleta.
E este deconhecimento, por parte das elites européias, da realidade social da fome no mundo e dos perigos que este fenômeno representa para a sua estabilidade social, constitui uma grave lacuna tanto para a análise dos acontecimentos políticos da atualidade, que se produzem em diversas regiões da terra, como no que se refere à atitude que os países da abundância deveriam ter face aos países subdesenvolvidos, permanentemente perseguidos pela penúria miséria alimentar.


Nenhum fator é mais negativo para a situação de abastecimento alimentar do país do que a sua estrutura agrária feudal, com um regime inadequado de propriedade, com relações de
trabalho socialmente superadas e com a não utilização da riqueza potencial dos solos.


Apresenta-se deste modo a Reforma Agrária como uma necessidade histórica nesta hora de
transformação social que atravessamos como um imperativo nacional.
É que cerca de 60% das propriedades agrícolas no Brasil são constituídas por glebas de áreas superiores a 50 hectares de terra, das quais 20% possuem mais de 10.000 hectares.
No recenseamento de 1950 ficou evidenciada a existência no Brasil de algumas dezenas de propriedades que são verdadeiras capitanias feudais: proriedades com mais de 100.000 hectares de extensão.

Do latifúndio decorre também a existência das grandes massas dos semterra, dos que trabalham na terra alheia, como assalariados ou como servos explorados por esta engrenagem econômica de tipo feudal.

Por sua vez, o minifúndio significa a exploração antieconômica da terra, a miséria crônica
das culturas de subsistência que não dão para matar a fome da família.
O tipo de reforma que julgamos imperativo da hora presente não é um simples expediente de desapropriação e redistribuição da terra para atender às aspirações dos sem-terra.

Processo simplista que não traz solução real aos problemas da economia agrária.
Concebemos a reforma agrária como um processo de revisão das relações jurídicas e econômicas, entre os que detêma propriedade agrícola e os que trabalham nas atividades rurais.

Precisamos enfrentar o tabu da reforma agrária - assunto proibido, escabroso, perigoso - com a mesma coragem com que enfrentamos o tabu da fome.

Falaremos abertamente do assunto, esvaziando desta forma o seu conteúdo tabu, mostrando através de uma larga campanha esclarecedora que a reforma agrária não é nenhum bicho-papão ou dragão maléfico que vá engolir toda a riqueza dos proprietários de terra, como pensam os malavisados, mas que, ao contrário, será extremamente benéfica para todos os que participam socialmente da exploração agrícola...


É evidente que não bastaria dispor de alimentos em quantidade suficiente e suficientemente diversificados para cobrir as necessidades alimentares da população mundial.
O problema da fome não é apenas um problema de produção insuficiente de alimentos.
É preciso que a massa desta população disponha de poder de compra para adquirir estes alimentos.
A fome age não apenas sobre os corpos das vítimas da seca, consumindo sua carne, corroendo seus órgãos e abrindo feridas em sua pele, mas também age sobre seu espírito, sobre sua estrutura mental,sobre sua conduta moral.


Nenhuma calamidade pode desagregar a personalidade humana tão profundamente e num sentido tão nocivo quanto a fome, quando atinge os limites da verdadeira inanição.
Excitados pela imperiosa necessidade de se alimentar, os instintos primários são despertados e o homem, como qualquer outro animal faminto, demonstra uma conduta mental que pode parecer das mais desconcertantes.

Querer justificar a fome do mundo como um fenômeno natural e inevitável não passa de uma técnica de mistificação para ocultar as suas verdadeiras causas que foram, no passado, o tipo de exploração colonial imposto à maioria dos povos do mundo, e , no presente, o neocolonialismo econômico a que estão submetidos os países de economia primária, dependentes, subdesenvolvidos, que são também países de fome.
As massas humanas se deram conta de que a fome e a miséria não são indispensáveis ao equilíbrio do mundo, e que hoje, graças aos progressos da ciência e da técnica, surgiu pela primeira vez na história um tipo de sociedade na qual a miséria pode ser suprimida e com ela a fome. (Fonte:Josué de Castro - PDF)